“TODA
RELAÇÃO É UM PRESENTE”
“É uma característica do ser humano marcar a passagem do tempo de
alguma forma e fazer rituais de passagem e comemoração. Precisamos
registrar o tempo. E precisamos, também, de memória. Precisamos
marcar datas – lembrar um luto, uma luta, um momento especial, um
aniversário, um fato histórico; precisamos homenagear pessoas e
lembrar, periodicamente, situações que marcaram a vida de toda uma
sociedade.
E toda sociedade estabelece um calendário de datas comuns que são
importantes, sejam feriados ou não. São datas que vão pautando
nossas vidas e nos fazendo crer quais dias são legais para se
comemorar. Essas datas são aceitas por todas as instituições como
“oficiais” e logo acabam fazendo parte da rotina das pessoas. É
assim com datas afetivas ( Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das
Crianças). A escola, por muito tempo, acreditou que fosse
importante comemorar todas essas datas dentro de seus portões.
Porém, aos poucos, fomos percebendo que, na verdade, nosso papel não
era simplesmente reproduzir os discursos sociais… E sim ter sobre
eles uma visão crítica… Modificá-los.
E muita coisa mudou. Mudou nossa visão sobre sociedade, sobre
história, sobre a escola e sobre o jeito de ensinar. Mudou nossa
visão sobre consumo, sobre manipulação, sobre crítica. Mudou
nossa visão sobre direitos do homem, da mulher e da criança. Mudou
nossa visão sobre arte, sobre cultura, sobre o mundo. Mudaram as
famílias e religiões. Mudou nossa visão sobre o que realmente é
significativo ou não comemorar dentro da escola, sobre o papel do
professor e da professora e sobre como as pessoas aprendem. E diante
disso tudo… Como não mudaria nossa visão sobre datas
comemorativas?
Não fazemos mais nosso planejamento baseado nessas datas como faziam
tantas escolas de Educação Infantil. Essa decisão é resultado de
um longo processo que durou anos de discussão e nos custou abrir mão
de velhos hábitos que nem sabíamos de onde vinham.
Aqui expomos algumas de nossas razões porque não comemoramos mais
alguns dias que todos comemoram sem pensar por quê.
*
NÃO COMEMORAMOS DATAS AFETIVAS E FAMILIARES, PORQUE RESPEITAMOS
TODAS AS FORMAS DE FAMÍLIA
Já faz muito tempo que não temos mais uma família nuclear
estruturada como era feito há 200 anos atrás, com pai, mãe,
muitos filhos, avós, tios e primos por perto. Hoje temos outras
realidades.
Lidamos com muitas famílias diferentes na escola, e não podemos
impor um modelo como sendo o correto. Algumas de nossas crianças são
criadas pelos avós, outros são adotados, outros de pais separados,
alguns foram abandonados, outras crianças são institucionalizadas o
tempo todo e não conhecem os pais e mães. Algumas crianças são
filhos e filhas únicos, outros têm muitos irmãos. Alguns convivem
com padrastos e madrastas, e outros, só com o pai ou só com a mãe.
Muitos não sabem o que é um carinho de família. Como poderíamos
entrar em terreno tão delicado de maneira leviana comemorando datas
que não fazem sentido para tantas dessas crianças reforçando um
modelo de pai ou mãe que muitas delas não têm?
*NÃO COMEMORAMOS DATAS QUE INCENTIVAM O CONSUMISMO DESENFREADO
Em uma sociedade consumista, individualista e pouco reflexiva como a
nossa, um dos meios mais comuns de se expressar afeto é pagar por
ele com presentes. Por isso, “há em curso um movimento de
superação das datas comemorativas como norteadoras do currículo,
que envolve o combate ao consumismo, sem perder de vista a laicidade
da educação pública, visando ampliar os repertórios culturais,
com a aproximação das comunidades do entorno”. (Diretrizes
Curriculares da Educação Básica para a Educação Infantil: Um
processo contínuo de reflexão e ação, p. 14)
Por essa razão, achamos que muitas das datas que tradicionalmente
comemorávamos, não são mais dias legais para comemorar.
Mas isso não quer dizer que somos pessoas amargas, que não gostam
de festa e não gostam de comemorar nada. Muito pelo contrário!
Estamos discutindo, e bastante, uma maneira de fazer um calendário
REALMENTE significativo para as crianças e para a comunidade e que
dialogue com o nosso projeto pedagógico.
Por exemplo…
Que tal fazer um DIA DE QUEM CUIDA DE MIM, para comemorar a alegria
de ter uma família, seja ela qual for?
Além disso, achamos importante manter algumas datas que já fazem
parte da cultura e tradição da nossa comunidade, mas sem o sentido
que tinham antes… Como a FESTA JUNINA ou os ANIVERSÁRIOS.
O importante é entender que a escola é, sim, lugar de comemoração,
mas que seja uma comemoração inclusiva, consciente,
transformadora...”
Nome original do texto: Dias legais para comemorar - nossa visão sobre datas comemorativas.
Fonte: http://giracirandinha.wordpress.com/
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